domingo

Trajetória Escolar


A memória da escola


Maura


  • Comecei a estudar com sete anos de idade, me lembro que a professora segurava na minha mão para fazer a letra do a pois não sabia de nada.A minha professora era muito calma e paciente com todos os alunos.Eu faltava muito na escola porque tinha que ajudar meu pai na roça ou em casa, às vezes, enquanto meus pais estavam pra roça, eu tinha que ficar em casa com minhas irmãs mais novas, mas, mesmo assim, com tanta dificuldade, consegui estudar até a quarta série, porém fui reprovada várias vezes por faltas.Meu pai era bravo, trabalhávamos muito, e ele não deixava a gente sair para passear. Nós não podíamos ir nem na casa da nossa avó. Me sentia presa, não tinha liberdade. Pensei: vou me casar, assim posso ser livre! Minha tia quando soube, teve a idéia e me disse:— Você Maura? Casar com 16 anos, só para se ver livre do seu pai? Você quer vir para São Paulo, para trabalhar comigo pensei duas vezes e vim.Trabalhei com uma senhora japonesa por um ano. Mudei de serviço e fui trabalhar de arrumadeira e a noite tinha que servir o jantar, mas minha patroa foi bondosa comigo, ela gostava do meu trabalho e falou que já tinha um tempo que eu trabalhava com ela, então, ia me dar uma oportunidade de estudar.Ela me falou que o estudo ia me fazer falta no futuro e que as domésticas iam acabar e, só iam existir robôs para fazer o serviço doméstico. Ela disse também que o jantar eles mesmos resolveriam. Fiquei animada e comecei a estudar. Mas um dia vindo para escola com meu esposo, sofri um acidente de moto. Ainda não tinha me recuperado direito, engravidei da Nicolle, então, ficou mais difícil, não tinha com quem deixar minha filha.Hoje ela está com 7 anos e já fica sozinha em casa, mas me sinto insegura. Converso com ela e falo que não posso perder mais tempo, pois por não ter um bom estudo já perdi muitas oportunidades . Só me dei conta disso quando me apareceu um problema na coluna.Era sério, as pessoas queriam me ajudar a arrumar um serviço de recepcionista, um serviço leve, mas como não estudei, ficou difícil. Minha patroa falou: —Agora você vai ter que voltar para escola "cabeção"! Você esta muito nova para estar com um problema tão sério deste. Estude, que eu vou arrumar um serviço no escritório do Vinicius, meu marido, para você.Assim foi minha vida escolar.

Silveneide


  • EU, SILVANEIDE, NÃO TIVE OPORTUNIDADE DE ESTUDAR QUANDO ERA CRIANÇA E NEM NA ADOLESCÊNCIA.QUANDO EU TIVE MINHA FILHA, FUI MORAR NA CASA DA MINHA IRMÃ QUE ESTUDAVA NO COLÉGIO SANTA CRUZ. ELA FALAVA PARA EU ESTUDAR NO SANTA CRUZ, MAS EU TINHA VERGONHA DE VIR PARA A ESCOLA.EM 200I COMECEI NA FASE 1 E ESTUDEI UM SEMESTRE, MAS NÃO TINHA COM QUEM DEIXAR MINHA FILHA.EM 2002 CONHECI O LUIZ, E EM 2003, FIQUEI GRÁVIDA E FOMOS MORAR JUNTOS. ELE LOGO PERCEBEU QUE EU NÃO SABIA LER E ESCREVER E FALAVA PARA EU IR PARA A ESCOLA.EU NÃO QUE RIA, ACHAVA QUE NÃO TINHA MAIS JEITO. COM O PASAR DO TEMPO ELE FALAVA QUE NÃO GOSTAVA DE ME VER PEDINDO PARA ELE ESCREVER, SENDO QUE EU PODIA VOLTAR A ESTUDAR. EM 2005 RESOLVI E VOLTEI A ESTUDAR, DECIDI VIR PARA O SANTA CRUZ PORQUE OS ESTUDOS SÃO FUNDAMENTAIS. A MINHA META É TERMINAR O ENSINO MÉDIO. TODOS OS CONHECIMENTOS QUE A ESCOLA OFERECE SÃO FUNDAMENTAIS PARA QUALQUER PESSOA. OS MEUS PLANOS SÃO SER CABELEREIRA E TER MEU PRÓPRIO SALÃO.

Maria Cleonice Gonzaga

  • Meu nome é Cleonice. Quando criança, não pude estudar porque ajudava minha família. A escola naquela época também não era boa. Voltei a estudar aos 30 anos e depois parei de novo. Retornei há alguns anos para o colégio Mackenzie, mas resolvi sair de lá por causa das minhas dificuldades em português e vim para o Santa Cruz. Pretendo completar a 8a série. A escola pode oferecer várias oportunidades para todos.

Ivone Batista dos Santos


  • Eu, Ivone, tive muita dificuldade na escola. Quando eu era pequena, estudei muito pouco. A professora ensinava, mas a gente não aprendia. Eu tive muitos problemas de saúde. Eu fiquei sem mãe logo pequena, então foi muito difícil para mim e para minha avó. Na escola a professora ensinava e batia ao mesmo tempo. O meu avô não tinha paciência com a gente. Eu ajudava o meu avô na roça. Meu pai abandonou todos nós. Passamos muitas dificuldades. Às vezes não gosto de lembrar do passado, mas tem que lembrar, fazer o quê? Tudo o que eu quero agora é ir em frente.

Alfredo Mascarenhas da Silva

  • Bom, meu nome é Alfredo, nasci no interior, mas fui morar em Salvador. Minha vida foi sempre difícil, mas tive várias oportunidades de estudar, porém eu queria mesmo era trabalhar, porque meu cunhado tinha uma oficina mecânica e adorava mexer nas ferramentas, nos carros, me sujar de óleo. Eu não queria saber de estudar, gostava mesmo de ficar por ali na oficina, mas o tempo foi passando e eu fui percebendo que eu estava errado. Quando fiquei mais velho, aos dezoito anos mais ou menos, fui para o interior e procurei uma boa escola. Matriculei-me, mas fiquei pouco tempo, pois o trabalho em Salvador me chamava. Apesar de saber que precisava estudar, também precisava trabalhar. Em Salvador, resolvi estudar, mas por pouco tempo. Depois vim para São Paulo trabalhar. Fiquei seis anos, mas como não tive oportunidades voltei para o interior. Estudei mais um pouco, voltei para São Paulo. Trabalho em uma casa de família que a patroa fez questão que eu estudasse. Graças a Deus encontrei uma vaga no Santa Cruz.


Ana Lucia Silva

  • Eu não tive chance de estudar quando era criança porque meu pai era muito chato. Quando eu comecei a estudar, eu tinha 15 anos. Minha antiga escola era muito legal, e lá eu aprendei a ler. Meus professores eram muitos bons comigo e, claro, com os outros também. Nunca passei dificuldades, eu voltei a estudar porque eu quero ter um trabalho melhor pra mim, eu pretendo estudar até terminar os estudos. O que tiver para aprender eu vou estudando. A escola pode me oferecer um trabalho melhor e os meus planos são trabalhar, ter casa, uma filha ou filho.





Um comentário:

Anônimo disse...

gostei dos comentários sobre o passeio do Cemucam que fez a gente lembrar das comidas, da professora dançando...
enilda